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Notas & Reportajes: retratos duros e reais da América Latina

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Foto Andy Goldstein. de la serie La Muerte de la Muerte. 1979

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Moracy R. De Oliveira. Nestas fotos, retratos duros e reais da América Latina. Diario Jornal da Tarde. 13 de junio de 1980. Brasil

 

ANDY GOLDSTEIN AO MUSEU DA IMAGEM E DO SOM - SÃO PAULO - BRASIL

Nestas fotos, retratos duros e reais da América Latina

No argentino Andy Goldstein, a fotografia é o médio de um quixotesco combate contra a morte

 

A SEGUNDA MORTE

Embora conceitualmente fechado e intelectualmente definido como ensaio fotográfico, La Muerte de la Muerte permite outras leituras que não se excluem e que vão além daquela proposta pelo seu autor: o da morte da fotografia. Simples apenas na aparência e na linearidade do discurso —sequência de registros mostrando a deterioração de retratos tradicionalmente afixados em túmulos— este ensaio é, na verdade, o resultado de uma complexa e interminável luta do homem contra o tempo é contra a falibilidade da memória, um quixotesco combate contra a morte total e completa, e uma metáfora inconsciente de um período sombrio da história argentina.

A perecibilidade da fotografia, fato tecnicamente evitável, é somente elemento simbólico, dado primário que permite ao fotógrafo elaborar um discurso denso, angustiado e multifacetado. Numa Argentina transtornada, Andy Goldstein encontra no tema mítico da morte, decorada pelos tons sombrios dos cemitérios, um motivo para discutir a vida, para tentar manter a qualquer custo os seus traços. Seu discurso fotográfico é feito de idéias claras mas também de desespero, de uma não aceitação de que os processos de manutenção da memória sejam tão frágeis e finitos.

A morte física é irreversível e imediata e, para Goldstein, a fotografia, também perecível, não passa de um retardador do desaparecimento completo da imagem do indivíduo. Sua deterioração destrói a imagem gravada e isso assemelha-se a uma segunda morte, a definitiva. La Muerte de la Muerte denúncia essa impossibilidade de permanência de uma memória e, ao mesmo tempo, desnuda a fotografia e o ato de fotografar como uma tentativa artificial de contornar a insuportável consciência de que o homem é mesmo um ser transitório e único, incapaz, a não ser por seus próprios atos, de deixar gravada sua imagem.

Moracy R. De Oliveira. Jornal da Tarde, p 18. 13 de junho de 1980

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